sábado, 19 de março de 2011

O sabonete consagrado.








imaginação dos neopentecostais parece não ter limite. Além de fazer uso de apetrechos de origem espírita e do folclore brasileiro, como o ramo de arruda (para “tirar” mau olhado), o sal grosso (para “afastar” maus espíritos), a rosa ungida (usada em despachos a Iemanjá), a Igreja da Graça inovou mais uma vez ao criar a campanha do “sabonete consagrado” que, dizem eles, é capaz de trazer cura e libertação dos pecados. 

Já que a tendência hoje é dar “cor” às celebrações, poderíamos sugerir que eles criem a campanha do “trigo de milagre” – isso, é claro, se os discípulos de Russell permitirem. Embora isso não seja nem um pouco engraçado, tal desvio doutrinário só faz reacender o debate em torno dos chamados “pontos de contato”. 

Edir Macedo faz o seguinte comentário:

“Os pontos de contato são elementos usados para despertar a fé das pessoas, de modo que elas tenha acesso a uma resposta de Deus para seus anseios. Muitas pessoas têm dificuldades para colocar sua fé em prática, por isso precisam de pontos de contato”. [1]

Trocando em miúdos, os pontos de contato seriam elementos usados para despertar a fé das pessoas, de maneira que elas possam ter acesso às bênçãos do Pai. Logo, segundo Edir, os pontos de contato funcionam como uma espécie de “ponte” entre o homem e Deus. É impossível não ver uma semelhança com a teoria católica da “pedagogia divina”. Para justificar o uso de imagens na igreja, o catolicismo desenvolveu o seguinte pensamento expresso nas palavras de D. Estevão Tavares Bettencourt.


“… os cristãos foram percebendo que a proibição de fazer imagens no Antigo Testamento tinha o mesmo papel de pedagogo (condutor de crianças destinado a cumprir as suas funções e retirar-se) que a lei de Moisés em geral tinha junto ao povo de Israel. Por isto o uso das imagens foi-se implantando. As gerações cristãs compreenderam que, segundo o método da pedagogia divina, atualizada na Encarnação deveriam procurar subir ao Invisível passando pelo visível que Cristo apresentou aos homens; a meditação das fases da vida Jesus e a representação artística das mesmas se tornaram recursos com que o povo fiel procurou aproximar-se do Filho de Deus. 

Assim criaram a ideia de que: nas igrejas as imagens tornam-se a Bíblia dos iletrados, dos simples e das crianças, exercendo função pedagógica de grande alcance.. 

É o que notam alguns escritores antigos: ‘O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente’. (S. Gregório de Nissa, Panegírico de S. Teodoro, p. 46, de 1248 d.C.) O que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados (São João Damasceno, De imaginibus 17 p. 94, de 1248 d.C).” [2]

Os pontos de contato exercem basicamente o mesmo papel da teoria católica da “pedagogia divina”, embora atue no campo da fé. R.R. Soares, que por sinal é cunhado de Edir e ex-membro da IURD, parece ter caído no mesmo erro ao lançar a campanha do “sabonete consagrado”. Se os pontos de contato exercem o papel de despertar a fé das pessoas, como fica Hebreus 11.1 que diz que a fé é “…a prova das coisas que não se veem”? Necessitamos, assim, de materializar nossa fé para alcançar os benefícios de Deus? Pode um simples pedaço de isopor, uma arruda ou uma fitinha azul despertar nossa fé? É algo para se pensar.
Referências Bibliográficas
[1] MACEDO. E. Doutrinas da Igreja, volume II, Rio de Janeiro – RJ: Editora Gráfica Universal, 1º edição, 1999, pág. 101.
[2] BITTENCOURT. E.T. Diálogo Ecumênico, São Paulo: Edições “Lúmen Christi”, 1989, pág. 94.
 
 
Redaçâo :André luis..

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