O Pecado Original-II
Redaçâo:André luis.
Redaçâo:André luis.
"E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espirito que agora opera nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. " - Efésios 2:1-3
(...) Continuação.
Basta para a primeira expressão, mas examinemos a segunda. Esta se acha no fim do versículo três: "e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também". Destaco as palavras "por natureza". Esta, obviamente, é uma expressão sumamente importante. É isso que explica por que somos filhos da desobediência e por que temos esta atitude particular com relação a Deus. O apóstolo a usa primariamente aqui, na explicação do seu ensino de que estamos sob a ira de Deus . Estamos sob a ira de Deus, diz ele, por natureza . Espero tratar disso mais adiante. Agora quero mostrar que a expressão significa algo mais que aquilo. Somos o que somos, em todos os aspectos, "por natureza". Se vocês preferirem outra tradução, poderiam usar em seu lugar a expressão "por nascimento", "e éramos por nascimento filhos da ira, como os outros também".
Noutras palavras, o ensino aqui é o mesmo ensino da Bíblia toda concernente ao homem em pecado, ensino segundo o qual nascemos neste mundo com uma natureza desobediente. Não nascemos com equilíbrio justo, com a possibilidade de ir por este ou aquele caminho. Nascemos com forte inclinação unilateral . Davi o expressa memoravelmente no Salmo cinqüenta e um, versículo cinco: "Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe". Que profunda peça de auto-análise e de psicologia! Se vocês querem psicologia, vão às Escrituras. Aí está um homem, Davi, examinando-se. Tinham-no feito lembrar-se do que ele fizera, o adultério e o homicídio que se lhe seguiu . Ele é despertado e se examina a si mesmo, e parece estar dizendo a si próprio: como pude fazer isso? Como pode alguém fazer tal coisa? Que é que torna um homem capaz disso? Que será? E, diz ele: há somente uma resposta, e é tão profunda como isto: em iniqüidade fui formado - "formado" em iniqüidade - e "em pecado me concebeu minha mãe".
Esta doutrina não é popular hoje. O homem em pecado jamais gostou dela. O que ele gosta de dizer, naturalmente, é que todos nós nascemos neutros. Vejam aquela criança, quão maravilhosa e perfeita! Bem, porque é que ela peca quando cresce? Ora, dizem eles, vocês vêem aqui qual é o problema; é o mundo pecaminoso ao qual ela vem: ela vê coisas más, vê maus hábitos, e aos poucos vai sendo influenciada por eles. Dizem eles que com a criança tudo está bem, mas com o ambiente não. Se tão-somente a criança fosse colocada num mundo perfeito, ela permaneceria perfeita; entretanto, vem a um mundo imperfeito e vê e pega hábitos, ouve falar e vê as coisas que as pessoas fazem, e gradativamente assimila essas coisas e as pratica. É tudo questão de ambiente, mau exemplo, má influência. Não, diz a Bíblia, não é não. Essa criança foi formada em iniqüidade, e foi concebida e nasceu em pecado. Quando vimos a este mundo, a nossa natureza já está corrompida. Herdamos uma natureza pecaminosa dos nossos antepassados e dos nossos pais; começamos com isso. As tendências e os desejos estão todos ali, e tudo o que o mundo faz é dar-nos um canal de escoamento. Há dentro de nós uma rebelião, um desejo de ter as coisas proibidas. Isso aparece logo no início. É uma das primeiras coisas que manifestamos, todos nós. Por quê? Bem, "por natureza".
Noutras palavras, o defeito central surge neste ponto da seguinte maneira: inclinamo-nos a pensar no pecado em termos de atos específicos da vontade; e daí nos inclinamos a estar cegos para o fato de que somos pecadores independentemente das nossas ações, de que o pecado está em nós e é parte integrante da nossa natureza. Devemos livrar-nos da idéia de que tudo está bem conosco enquanto não chega a tentação e caímos. Isso é verdade quanto a um pecado, uma ação pecaminosa. Neste caso, eu exerci a minha vontade e fiz o que não devia! Mas essa explicação não é completa. A real questão é esta: o que foi que me levou a esta ação? A resposta é que foi "algo" que está dentro de mim. Vejam as palavras do nosso Senhor, que falou disso uma vez por todas: "O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. . . Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição..." e tudo o mais (Mateus 15:11,19). A dificuldade está no coração do homem. É esta natureza decaída, pecaminosa. É o que Paulo chama, no capítulo sete de Romanos "a lei do pecado que está nos meus membros"; "em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". Ela é corrupta, é má, por natureza. "Somos por natureza filhos da ira, como os outros também."
Isso é de vital importância. Se a outra teoria estiver certa e o homem nasce mais ou menos neutro, e se os seus problemas forem causados pelo fato de que as coisas más ou um mau ambiente o levam a extraviar-se, então, tudo o que você terá que fazer é tratar do ambiente. E essa tem sido a filosofia dominante nos últimos sessenta a setenta anos. Tem-se considerado o problema como sendo um problema de educação, de moradia e de melhoria econômica, quase exclusivamente. Só tínhamos que dar ao homem as condições certas, e dar-lhe o ambiente certo e o conhecimento adequado, e ele estaria totalmente bem. No entanto, hoje em dia, seguramente, temos que começar a compreender que a verdade não é essa, que isso não funciona. Vocês podem dar ao homem as condições mais ideais, e ele irá mal. Foi no Paraíso que o homem caiu! E se o homem, em suas perfeitas condições originais, pôde cair em pecado, quanto mais o homem já decaído! Este é um princípio que por si mesmo se demonstra em todas as relações humanas, em toda parte. É uma lástima, mas o problema e a tragédia estão em um nível muito profundo. A Bíblia não está sozinha neste ensino. Shakespeare o expôs de maneira memorável: "O defeito caro Brutus, não está em nossas estrelas, mas em nós, que somos desprezíveis. "Por natureza"! Começamos com isso, com uma tendência para o mal, tendo a vontade em escravidão, sob o domínio de satanás, com cobiças e maus desejos, como veremos, já ali e esperando por uma oportunidade para demonstrar-se e manifestar-se.
Passamos a seguir à palavra muito importante "todos". "Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira" - e de novo ele o diz - "como os outros também." Ou, se vocês preferirem outra tradução - "como o restante da humanidade";. "Todos", é universal. Ora, isso é uma coisa impressionante. Este ponto era muito apropriado para o argumento particular do apóstolo precisamente aqui. Seu tema é, vocês se lembram, como Deus em Cristo, na plenitude dos tempos, vai reunir as coisas em Cristo, "tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" . E diz o apóstolo que Ele já começou a fazê-lo. No capítulo primeiro, versículo onze, ele afirma que alguns que são judeus creram no evangelho e estão no reino. Ele prossegue, dizendo que alguns que eram gentios também obtiveram herança. Aqui ele retoma o ponto - "E vos vivificou". Ele fez a mesma coisa com vocês, gentios. Mas seu grande desejo é que ninguém pense que ele está dizendo estas coisas somente acerca dos gentios. Não, "todos" nós andávamos nos desejos da nossa carne, "todos" nós éramos filhos da ira, como os outros também. O que ele diz aqui sobre o homem em pecado é verdade com relação ao judeu, como também com relação ao gentio.
Como era difícil para o judeu acreditar nisso! Durante séculos ele tinha acreditado que estava completamente separado: o judeu! Fora estavam os cães, os gentios, os estrangeiros. Estes estavam fora da "comunidade de Israel". O judeu era filho de Deus, estava a salvo porque era judeu. Ele era totalmente justo e melhor do que todos os outros que eram pecadores, os cães dos gentios, os quais estavam fora. Como lhe era difícil aceitar uma doutrina que afirma que ele era tão pecador como o gentio! Essa era a pedra de tropeço para o judeu ; ele não gostava disso. E esta classificação da humanidade ainda se vê em diferentes formas e moldes. No entanto, aqui o apóstolo diz, "não somente os gentios", mas "também os judeus". E vocês notam que até a si mesmo ele inclui. Tendo começado com vós , agora diz "nós". Essa é a verdade a respeito de Paulo, o apóstolo ! É inimaginável, não é? Mas essa fora a tragédia da sua vida antes da sua conversão. Como Saulo de Tarso, ele estava satisfeito com a sua vida; "segundo a justiça que há na lei, irrepreensível" (Filipenses 3:6). E (em Romanos, capítulo 7) ele nos conta como foi que veio a enxergar o seu erro. Foi quando ele entendeu a lei, que dizia: "Não cobiçarás". Então "reviveu o pecado, e eu morri". Quando se deu conta de que a lei dizia "você não pode desejar", "você não pode cobiçar", ele viu o real significado da lei e viu que ele era um terrível pecador. Escrevendo a Timóteo, ele diz: "Esta é uma palavra fiel, e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (I Timóteo 1 : l 5). Ele se considera o principal dos pecadores. "Todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne...".
Esta é a verdade com referência a "todos". Todavia, as pessoas ainda são muito lerdas para ver isso. Dizem elas: veja esta descrição do pecado que você faz naqueles três versículos. É claro, diz o homem, que eu posso ver muito bem que isso se aplica a certas pessoas. Eu ando pelas ruas e vejo aquele pobre bêbado, e aquela mulher decaída. Vejo pecado em seus trapos e em seus vícios. Você está totalmente certo no que diz com relação a tais pessoas e quando fala de uma natureza má e das luxúrias da carne, das luxúrias da mente, e assim por diante. Concordo plenamente com você. Mas nós não somos daquele tipo de gente. Porventura não existe gente boa, de boa moral, e decente, gente íntegra e religiosa? Você está falando isso dessa gente? A resposta do apóstolo Paulo é "todos", "como os outros também"; toda a humanidade, sem uma única exceção. Todos fomos formados em iniqüidade, concebidos em pecado. "Todos" nós temos esta natureza pecaminosa.
O erro fatal é pensar no pecado sempre em termos de atos e ações, e não em termos de natureza e de disposição. O erro está em pensar nele em termos de coisas particulares em vez de pensar nele, como devíamos, em termos de nossa relação com Deus. Vocês querem saber o que é o pecado? Eu lhes direi. Pecado é exatamente o oposto da atitude e da vida que se enquadram em , "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento". Se você não está fazendo isso, você é um pecador. Não importa quão respeitável você seja; se você não está vivendo inteiramente para a glória de Deus, você é um pecador. E quanto mais você imaginar que é perfeito em si mesmo e independentemente de sua relação com Deus; maior será o seu pecado. É por isso que qualquer um que leia o Novo Testamento objetivamente poderá ver claramente que os fariseus dos tempos do nosso Senhor eram maiores pecadores (se se pode empregar tais termos) do que os publicanos e os pecadores declarados. Por quê? Porque eles se davam por satisfeitos consigo mesmos, porque eram auto-suficientes. O cúmulo do pecado é a pessoa não sentir necessidade da graça de Deus. Não existe pecado maior do que esse. Infimamente pior do que cometer algum pecado da carne é você achar que é independente de Deus, ou achar que Cristo jamais precisou morrer na cruz do Calvário. Não há maior pecado do que esse. A auto-suficiência final, a auto-satisfação final e a justiça própria, é o pecado dos pecados; é o cúmulo do pecado, porque é pecado espiritual. Assim, quando você chega a compreender isso, passa a compreender que o apóstolo não está exagerando quando diz "todos nós", "como os outros também".
Esse é o homem em pecado, e é verdade universal . Há somente uma explicação adequada disso. É a que nos é dada no começo do livro de Gênesis. É a doutrina bíblica da Queda e do pecado original . Não se pode compreender o mundo moderno à parte da doutrina do pecado original. Tudo aconteceu da seguinte maneira: um homem, Adão, o representante da humanidade, pecou, rebelou-se e caiu. E as conseqüências passaram a toda a sua progênie. Eu os desafio a explicarem a universalidade do pecado em quaisquer outros termos. Simplesmente não se pode fazer isso. Todas as outras teorias caem por terra. É por isso que temos que crer nos primeiros capítulos de Gênesis, se é que devemos crer no Novo Testamento. Sem isso não se pode ter uma verdadeira doutrina da salvação. As duas coisas vão juntas, como Paulo o prova no capitulo cinco da Epístola aos Romanos e de novo, e exatamente da mesma maneira, no capítulo quinze da Primeira Epístola aos Coríntios. Esse é o problema do homem; e é por isso que o homem é como é. Adão caiu, Adão pecou; e o resultado é que toda a semente de Adão nasce em corrupção, com uma natureza corrupta. É universal, acontece em toda parte. É isso que "estabelece o parentesco do mundo inteiro"; é isso que torna absurdas todas as suas "cortinas", todas as suas barreiras de cor e todas as suas filosofias. Nisso o mundo inteiro é um só. Todos nós estamos em pecado, somos filhos da desobediência, herdeiros de uma natureza decaída que se expressa e se manifesta da maneira como iremos considerar - "nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos , estando pois, sob a ira de Deus e completamente desamparados .
Deixo o assunto nesta altura, porque estou pregando com a suposição de que me estou dirigindo a cristãos. Mas se eu estivesse pregando isto a um auditório misto, não pararia aí, não me atreveria a parar aí. Eu continuaria, dizendo: "Mas, quando estávamos nesta situação, em Sua infinita graça e amor e misericórdia, Deus nos vivificou". Nada menos que isso poderia fazê-lo. Que outra coisa mais poderia tratar do homem em tais condições? Nada menos que o soberano poder de Deus - o poder que, como Paulo dissera ao final do capítulo primeiro, fez o Senhor Jesus ressuscitar dentre os mortos e O elevou e O colocou "à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia". Nada menos que o poder de Deus pode resgatar e redimir e salvar o homem. Entretanto, Ele o fez em Cristo. E nós, que somos cristãos, fomos levantados daquela terrível condição em que estivéramos outrora, unicamente por causa da Sua maravilhosa graça.
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