1. ANTES DA REFORMA.
No desenvolvimento histórico da doutrina da santificação, a Igreja
preocupou-se primeiramente com três problemas: (a) a relação da graça de
Deus na santificação com a fé; (b) a relação da santificação com a
justificação; e (c) o nível da santificação nesta existência. Os
escritos dos chamados primeiros pais da Igreja contêm muito pouca coisa a
respeito da doutrina da santificação. Um ar de moralismo transparece em
que o homem era ensinado a depender da fé e das boas obras para a
salvação. Ele deve levar uma vida virtuosa e. assim, merecer a aprovação
do Senhor. "Tal dualismo", diz Scott em sua The Nicene Theology
(Teologia Nicena),292 "deixava os domínios da santificação só
diretamente relacionados com a redenção em Cristo; e foi este o campo em
que, naturalmente, se desenvolveram concepções defeituosas do pecado, o
Legalismo, o Sacramentalismo, o falso sacerdócio e todos os excessos da
devoção monacal". O Ascetismo veio a ser considerado da maior
importância.
Havia
também a tendência de confundir a justificação com a santificação,
Agostinho foi o primeiro a desenvolver idéias um tanto definidas de
santificação e as suas opiniões tiveram determinante influência sobre a
Igreja da Idade Média. Ele não distinguia claramente entre a
justificação e a santificação, incluindo a última na primeira. Desde que
ele cria na corrupção total da natureza humana, ocasionada pela Queda,
pensava na santificação como uma nova comunicação da vida divina, uma
nova energia infusa, operando exclusivamente dentro dos limites da
Igreja e mediante os sacramentos. Conquanto não tenha perdido de vista a
importância do amor pessoal a Cristo como um elemento constitutivo da
santificação, manifestava a tendência para uma visão metafísica da graça
de Deus na santificação - para considerá-la um depósito de Deus no
homem. Ele não acentuava suficientemente a necessidade de uma constante
preocupação da fé com Cristo Redentor como o fator mais importante da
transformação da vida cristã. As tendências patentes nos ensinos de
Agostinho frutificaram na teologia da Idade Média, que se vê em sua
elaboração mais desenvolvida nos escritos de Tomás de Aquino. Não se
distinguem claramente a justificação e a santificação, mas, segundo essa
concepção, aquela inclui a infusão da graça divina, como uma coisa
substancial, na alma humana. Esta graça é uma espécie de donum superadditum (dom superádito),
pelo qual a alma é elevada a novo nível ou a uma ordem superior do ser,
e é capacitada a cumprir o seu destino celestial de conhecer, possuir e
fruir a Deus.
A
graça é derivada do inexaurível tesouro dos méritos de Cristo e é
infundida nos crentes por meio dos sacramentos. Vista do ponto de vista
divino, esta graça santificadora na alma assegura a remissão do pecado
original, infunde um hábito permanente de retidão inerente, e leva
consigo o potencial posterior desenvolvimento, e até de perfeição. A
partir dela a nova vida se desenvolve, com todas as suas virtudes. Sua
obra pode ser neutralizada ou destruída por pecados mortais; mas a culpa
contraída após o batismo pode ser removida pela eucaristia, no caso dos
pecados veniais, e pelo sacramento da penitência, no caso dos pecados
mortais. Consideradas do ponto de vista humano, as obras sobrenaturais
da fé, operando pelo amor, têm mérito perante Deus e garantem um aumento
da graça. Contudo, tais obras são impossíveis sem a contínua operação
da graça de Deus. O resultado do processo todo era conhecido como
justificação, em vez de santificação; consistia em tornar justo o homem
diante de Deus. Estas idéias estão incorporadas nos cânones e decretos
do Concilio de Trento.
2. DEPOIS DA REFORMA.
Ao falarem de santificação, os reformadores davam ênfase à antítese de
pecado e redenção, e não à de natureza e supernatureza. Eles faziam
clara distinção entre justificação e santificação, considerando a
primeira como um ato legal da graça divina, afetando a posição judicial
do homem, e a última como uma obra moral ou recriadora, mudando a
natureza interior do homem. Mas, enquanto faziam cuidadosa distinção
entre as duas,também salientavam a sua inseparável conexão. Embora
profundamente convictos de que o homem é justificado somente pela fé,
também compreendiam que a fé que justifica não está sozinha.
A
justificação é imediatamente seguida pela santificação, visto que Deus
envia o Espírito de seu Filho aos corações dos que lhe pertencem, tão
logo são justificados, e esse Espírito e o Espírito de santificação.
Eles não consideravam a graça da santificação como uma essência
sobrenatural infusa no homem através dos sacramentos, mas como uma
sobrenatural e graciosa obra do Espírito Santo, primariamente mediante a
Palavra, e secundariamente mediante os sacramentos, pela qual ele nos
livra mais e mais do poder do pecado e nos habilita a praticar boas
obras.
Embora
de modo algum confundindo a justificação com a santificação, sentiam a
necessidade de preservar a mais estreita relação possível entre aquela,
na qual a livre e perdoadora graça de Deus é fortemente acentuada, e
esta, que requer a cooperação do homem, com o fim de evitarem o perigo
da justiça das obras. No Pietismo e no Metodismo, forte ênfase foi dada à comunhão constante com Cristo como o grande meio de santificação.
Exaltando
a santificação em detrimento da justificação, nem sempre evitaram o
perigo da justiça própria. Wesley não distinguia meramente entre a
justificação e a santificação, mas praticamente as separava, e falava da
santificação completa como um segundo dom da graça, seguindo-se ao
primeiro, a justificação pela fé, após um período mais curto ou mais
longo. Embora também falasse da santificação como um processo, todavia
afirmava que o crente deve rogar e buscar a santificação completa e
definitiva, efetuada por um ato definido de Deus.
Sob a influência do racionalismo e do moralismo de Kant,
a santificação deixou de ser considerada como uma obra sobrenatural do
Espírito Santo na renovação dos pescadores, e foi rebaixada ao nível de
um simples melhoramento moral obtido pelos poderes naturais do homem.
Para Schleiermacher isso
era simplesmente o progressivo domínio da consciência de Deus dentro de
nós sobre a consciência humana do mundo, meramente perceptiva e sempre
moralmente defeituosa. E para Ritschl isso
era a perfeição moral da vida cristã a que chegamos pelo cumprimento da
nossa vocação como membros do reino de Deus. Em grande parte da
Teologia Liberal moderna, a santificação consiste apenas na sempre
crescente redenção do ser inferior do homem mediante o domínio do seu
ser superior. Redenção pelo caráter é um dos lemas dos dias amais, e o
termo "santificação" veio a significar mero melhoramento moral.
http://www.ocalvinismo.com/2010/05/doutrina-da-santificacao-na-historia.html
http://www.ocalvinismo.com/2010/05/doutrina-da-santificacao-na-historia.html
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