John MacArthur Denuncia a Linguagem Vulgar de Mark Driscoll - Parte 2
(O Estupro aos Cânticos de Salomão)
Tradução: Nelson Ávila (Aluno da Escola Charles Spurgeon).
Francamente,
é difícil pensar em um abuso mais terrível da Escritura que transformar
os Cânticos de Salomão em pornô soft. Quando pessoas não conseguem mais
ler esta porção da Escritura sem que imagens pornográficas entrem em
suas mentes, a beleza do livro já tem sido corrompida, sua descrição da
justiça amorosa pervertida, e sua função na santificação e elevação do
relacionamento matrimonial desviada. Que pregadores façam isso no culto
público é inconcebível.
Os Cânticos de Salomão são
deliberadamente velados em eufemismos que, em qualquer medida,
mostram-se belos. Algumas das imagens são absolutamente óbvias, outras
altamente discutíveis. Em muitos lugares o significado é indistinto o
bastante para permitir uma grande dose de imaginação hermenêutica, e a
sabedoria parece ensinar que aqui — especialmente aqui — é melhor para o
pregador não ser muito mais explícito do que o foi o Espírito Santo.
E encaremos isto: em geral, o Cântico está tão longe do explícito quanto pôde o escritor fazê-lo.
Além
disso, desde que o simbolismo trata obviamente acerca de paixão,
romance, amor, desejo e ternura, sua ambigüidade serve a um propósito
deliberado: ela fala em termos secretos aquilo que deveria ser mantido
em secreto. A linguagem é claramente concebida para comunicar afeições
de privacidade íntima através de termos velados, confidenciais e quase
clandestinos.
Este é um ponto vital: O estilo da comunicação
entre aqueles dois amantes oculta belamente o significado mais essencial
de suas canções de amor, de um modo que preserva a profundidade da
privacidade pessoal (e divinamente pretendida) do leito conjugal.
O
Cântico de Salomão é incrivelmente belo precisamente por ser tão
cuidadosamente velado. É a perfeita descrição da maravilhosa e terna
descoberta da intimidade que Deus designou que acontecesse entre um
jovem homem e sua noiva num lugar de segredo. Nós não somos informados
em termos vívidos o que todas as metáforas significam, porque a beleza
da paixão conjugal está no olho do expectador — onde deve permanecer.
Tom Gledhill sabiamente resume este ponto em seu comentário sobre os Cânticos de Salomão (pp. 29-31):
Ao
desempacotar metáforas e desembrulhar eufemismos [nos Cânticos de
Salomão] pode acontecer que nossos pensamentos espiralem fora de
controle, e acabemos por cometer adultério em nossas imaginações. E o
que fazer então se a interpretação das Escrituras se mostrarem ser uma
pedra de tropeço, e uma causa de ofensa para alguns que crêem? ... Uma
vez que uma linha particular de interpretação tem sido sugerida, é
difícil não ver explícitas alusões sexuais em todos os lugares, até que
todo o trabalho se torna saturado de referências a genitália, relações
sexuais e sexo explícito.
... A resposta do Novo Testamento é
muito clara e direta. Jesus disse, "Se teu olho direito te faz pecar,
arranca-o... É melhor perder uma parte do corpo do que ter todo o corpo
lançado no inferno". Em outras palavras, não andemos em tentação de
olhos abertos quando conhecemos nossas áreas específicas de fraqueza.
...
A linguagem que usamos para descrever várias partes da anatomia humana
(o que o apóstolo Paulo descreve como nossas 'partes decorosas') é um
assunto para delicada sensibilidade... Quando [explicitadas
inapropriadamente] palavras são usadas em discurso verbal, uma profunda
desorientação toma lugar nos ouvintes, a qual tem uma tendência de
bloquear, em grande medida, qualquer capacidade adicional para uma
discussão racional. Eles agem, por assim dizer, como granadas de mão.
Seu uso é uma atividade terrorista, causando destruição desenfreada.
Tremper Longman III diz o seguinte acerca dos pregadores e
comentaristas que interpretam as imagens poéticas dos Cânticos em termos
abertamente explícitos: "A livre associação [deles] com as imagens dos
Cânticos é tão prevalecente que aprendemos muito mais sobre os
interpretes que sobre o texto" (NICOT, p. 14).
Considere, por
exemplo, a seguinte passagem de Cânticos de Salomão 4:12-16. Aqui
Salomão descreve sua noiva com uma metáfora complexa empregando símbolos
florais, e ela responde fazendo eco as imagens:
Jardim fechado é minha irmã, minha noiva,
Sim, jardim fechado, fonte selada.
Os teus renovos são um pomar de romãs,
Com frutos excelentes; a hena juntamente com nardo,
O nardo, e o açafrão, o cálamo, e o cinamomo,
Com toda sorte de árvores de incenso;
A mirra e o aloés, com todas as principais especiarias.
És fonte de jardim, poço de águas vivas,
correntes que manam do Líbano!
Levanta-te, vento norte,
E vem tu, vento sul;
Assopra no meu jardim, espalha os seus aromas.
Entre o meu amado no seu jardim,
E coma os seus frutos excelentes!
Salomão
descreve assim sua noiva como um jardim fechado e selado. Para ele, ela
é um lugar agradável, cheio de aromas encantadores e substâncias
tranqüilizantes. A descrição desenhada por ele é bela em todos os
níveis. Os detalhes ("frutas escolhidas, hena com nardo, o nardo e o
açafrão, o cálamo e o cinamomo... árvores de incenso, mirra" etc.) podem
ou não possuir significados específicos que teriam sido conhecidos pela
noiva.
O que todo interprete cauteloso pode dizer com certeza é
que Salomão considera sua noiva aprazível a todas as suas percepções
sensoriais. Ele, então, a compara à imagem mais agradável e bela que
pode imaginar — ungüentos, fragrâncias e deleites visuais — tudo
concentrado em um único e bem cultivado local. Um jardim. O jardim está
"fechado", o que, novamente, enfatiza a privacidade íntima do amor
conjugal puro.
Nada requer que o exegeta vá além disto. A própria Escritura não vai além disto.
"É
franco, mas não é grosseiro", disse Mark Driscoll num Domingo, a uma
congregação escocesa, a menos de 18 meses atrás. Mas então ele continuou
a parafrasear Salomão de uma maneira que foi totalmente grosseira e nem
remotamente próxima daquilo que o Espírito Santo pretendeu. (Uma cópia
em CD desta mensagem chocante, intitulada Sexo: Um Estudo das Partes
Boas dos Cânticos de Salomão, me foi enviada por alguns cristãos do
Reino Unido, profundamente ofendidos e preocupados. Esta é a razão
primária de eu estar fazendo esta série).
Na mente de Driscoll,
não é a noiva em si que é um jardim, mas uma parte específica de sua
anatomia. Da maneira que ele recria a passagem, não é um poema sobre o
deleite da privacidade que os cônjuges usufruem entre si; é uma maneira
sorrateira de expor abertamente essa intimidade para que todos possam
ver.
Em essência, ele trata os Cânticos de Salomão como a velha
lenda urbana acerca das letras de "Louie, Louie". Apenas aqueles com um
conhecimento secreto podem realmente entender; e, portanto, seu
verdadeiro significado deve ser algo sujo.
Esta abordagem
satisfaz ouvidos lascivos. É difícil vê-lo como algo diferente de mero
exibicionismo. O pior de tudo é que isto inverte todo o propósito dos
Cânticos de Salomão.
Tremper Longman estava certo: eisegesi como esta não revela nada acerca do livro, mas tudo acerca do interprete.
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