John MacArthur Denuncia a Linguagem Vulgar de Mark Driskoll e Outros - Parte 3
Por John MacArthur Jr
(O Estupro dos Cânticos de Salomão)
Tradução: Nelson Ávila (Aluno da Escola Charles Spurgeon).
[Nota
do Editor: O leitores devem ser advertidos que este artigo contem
material ofensivo. No entanto, ele está incluído aqui com o objetivo de
fundamentar a tese deste artigo.]
Eu enfaticamente concordo com
aqueles que dizem que os Cânticos de Salomão não são mera alegoria. Ele é
melhor entendido quando o tomamos como de fato se propõe a ser, como
qualquer outro texto da Escritura. Muitos intérpretes a quem, em outro
caso, mantenho em alta estima (incluindo Spurgeon e a maioria dos
Puritanos), infelizmente fizeram mais para confundir do que para
esclarecer a mensagem dos Cânticos ao tratá-la de uma maneira puramente
alegórica que acaba por eliminar seu sentido primário.
Os
Cânticos de Salomão são, como tenho dito desde o princípio, um poema de
amor entre Salomão e sua noiva, celebrando o amor mútuo de um pelo
outro, incluindo os prazeres do leito conjugal. Interpretar esta — ou
qualquer outra porção da Escritura — de uma maneira puramente alegórica é
tratar a própria imaginação do intérprete como mais autoritativa do que
o sentido literal do texto.
De qualquer modo, aqueles que fingem
saber o significado dos símbolos poéticos que não estão claramente
identificados a partir do próprio texto cometem o mesmíssimo erro. Suas
especulações são igualmente um modo de exaltar suas próprias imaginações
a um nível de autoridade superior ao sentido literal do texto.
É
um problema particular quando o interprete vê um mandato para sexo oral
numa simples metáfora acerca do fruto de uma árvore, ou imagina que a
melhor maneira de contextualizar e ilustrar porções do texto é despindo
verbalmente sua própria esposa a fim de fazer o ponto tornar-se o mais
vívido possível.
Num caso como este, o orador não apenas tem dado
peso demasiado a sua própria imaginação especulativa; ele tem dado um
sinal bastante claro de que sua imaginação não é totalmente pura (Lucas
6:45).
E este é um problema muito mais sério do que meramente alegorizar o texto.
De
maneira alguma desejo minimizar os perigos de se alegorizar o texto.
Essa aproximação hermenêutica é cheia de prejuízos, mesmo nas mãos de
homens de mente pura, que geralmente são saudáveis em sua doutrina. Eu
não aprovo os vôos da fantasia alegórica, especialmente com um texto
como os Cânticos de Salomão, o qual impõe bastante dificuldade com as,
obviamente embutidas, metáforas e linguagem poética que possui.
Alegorizadores
dos Cânticos de Salomão geralmente o vêem como uma expressão de terno
amor mútuo entre Cristo e Sua igreja. A maioria deles diria que Cristo é
representado pela voz de Salomão; a igreja é representada pela voz de
Sulamita. Alguns intérpretes vão ainda mais longe e dizem ouvir três ou
mais vozes falando do texto. (Invariavelmente, aqueles que multiplicam
as vozes tentam fazer com que os versículos se encaixem em algum libreto
complexo que se levanta mais de suas próprias agendas pessoais do que
do texto em si.)
Ainda assim, independentemente de quantas vozes
sejam ouvidas e quem esteja supostamente falando, quase todos os que
alegorizam este poema vêem-no como um cântico de amor entre Cristo e a
igreja. É provavelmente adequado dizer que esta visão alegórica sobre
Cristo e a igreja tem sido a interpretação dominante do poema através da
história da igreja.
Isto, é claro, não é o certo a ser feito.
Acontece que penso não ser esta a abordagem correta para interpretar
este texto. Mas esta não é uma visão que deva ser rejeitada com desprezo
vulgar — especialmente com uma piada grosseira atribuindo comportamento
homossexual a Cristo.
Se você já ouviu qualquer dos estudos de
Mark Driscoll sobre os Cânticos de Salomão, certamente terá ouvido sua
piada naquele sentido. Por exemplo, no sermão que me impulsionou a
escrever estes artigos, Driscoll diz, "Alguns têm alegorizado este
livro, e assim fazendo, eles o têm destruído. Eles dirão que ele é uma
alegoria entre Jesus e sua noiva, a igreja. O que, se for verdade, é
estranho. Porque Jesus está fazendo sexo comigo e pondo sua mão sobre
minha camisa. E isto parece estranho. Eu amo Jesus, mas não desse
jeito."
Drsicoll disse quase exatamente a mesma coisa nos últimos
três outros sermões. Por exemplo: "Jesus continua fazendo comigo e me
tocando em locais impróprios". "Agora eu sou gay, ou altamente
perturbado, ou ambos". "Como um cara, eu não me sinto confortável com
Jesus, como você sabe, me beijando, me tocando e me levando para a cama.
Ok? Acho que essa espécie de visão acerca dos Cânticos de Salomão é
muito homo-erótica."
Mesmo em sua série mais recente, Peasant Princess, ele repete uma versão daquela mesmíssima piada:
Agora,
o que acontece é que alguns dizem "Bem, nós cremos no livro [dos
Cânticos de Salomão], e o ensinaremos, mas o faremos alegoricamente." E
há então uma interpretação alegórica e uma literal. Eles dirão, "Bem, a
interpretação alegórica não é entre um marido e sua esposa, Cânticos de
Salomão, amor, romance e intimidade; do que ela trata? Sobre nós e
Jesus." Realmente? Eu espero que não. [Risos da platéia] Se eu chegar no
céu e ele desabar, não sei o que farei. Quero dizer que este será um
mau dia. Certo? Eu falo sério. Vocês caras, sabem do que eu estou
falando. É como, "Não, eu não estou fazendo isto. Você sabe que eu não
estou fazendo isto. Eu O amo [Jesus], mas não deste jeito." [Risos da
platéia].
Driscoll escapa da crítica a respeito deste tipo de
piada alegando que não é blasfêmia pelo fato de não ter nada a ver com o
"verdadeiro" Jesus. Ele diz que está simplesmente tirando sarro de uma
falsa noção sobre Jesus. E ele continua fazendo a piada. Aqui está o
problema com isto: a Escritura claramente ensina que o amor entre marido
e mulher em todos os seus aspectos é uma metáfora de Cristo e a igreja
(Efésios 5:31-32).
Assim, mesmo uma interpretação não alegórica
dos Cânticos de Salomão (simplesmente tomando a canção de amor entre
Salomão e Sulamita no sentido em que ela se propõe a ser), em última
análise aponta-nos a Cristo e seu amor pela igreja. O texto deve ser
manuseado pelo pregador, portanto, não como um pretexto para se banhar
na sarjeta de nossa cultura obsessiva por descontração, com uma
conversação grosseira acerca de sexo e descrição de imagens sexuais.
Alguns
dos que tem comentado esses artigos sugeriram que eu deveria fazer uma
exposição completa dos Cânticos de Salomão ao invés de simplesmente
criticar os maus intérpretes e condenar a fixação da igreja
contemporânea por sexo.
Isto exigiria uma série longa, e eu
preferiria não devotar semanas de tempo neste blog a um tópico que
levantei apenas com o objetivo de uma simples admoestação particular.
Mas aqueles que desejam conhecer minha exposição dos Cânticos de Salomão
ficarão felizes em encontrar notas completas sobre o texto na Bíblia de
Estudo MacArthur.
Aquelas notas devem ser uma resposta
suficiente àqueles que pretendem saber se o que estou falando é que
seria melhor não comentar os Cânticos de Salomão de maneira alguma.
É
claro que não é o que estou dizendo, nem pode alguém asseverar que
tenho afirmado implicitamente qualquer coisa do tipo — sem torcer minhas
palavras ou colocar suas palavras em minha boca. (Isto aconteceu
literalmente numa série de comentários em outro blog onde este artigo
estava em discussão. Um comentarista precipitadamente me acusou de
oposição a exposição linha-por-linha dos Cânticos. Em metade dos
comentários, as pessoas estavam pondo esta alegação entre aspas,
atribuindo-a a mim.)
O que estou dizendo é que os limites da
decência — especialmente quando se lida com temas como sexo — devem ser
aplicados a qualquer texto com o qual estejamos lidando. Interpretar a
bela poesia de modo a transformá-la num indecente pornô soft é corromper
a intenção primordial do texto.
Isto está longe de ser tão
difícil de entender como alguns estão imaginando, mas talvez um simples
paralelo seja suficiente: Existem outras funções privadas do corpo e
partes do corpo "menos honrosas" ou "indecorosas" (1 Coríntios 12:23).
Encontramos estas mencionadas ou aludidas às vezes nas Escrituras sem,
contudo, serem demasiadamente especificadas. Todos nós seriamos
certamente ofendidos se o pregador fizesse um longo discurso descritivo,
ou desse instruções do tipo "como-é", no culto de Domingo, sublinhando
aquelas coisas "indecorosas".
Por razões mais fortes que a
simples modéstia, certos atos envolvendo fornicação, auto-erotismo e
outras coisas que as pessoas geralmente "fazem em segredo", são
vergonhosas para serem discutidas em qualquer contexto público (Efésios
5:12), muito menos num culto da igreja. Elas podem ser temas adequados
para uma sessão de aconselhamento privado, para um consultório médico ou
para uma aula de biologia da faculdade, mas não são temas apropriados
para um culto onde Deus deve ser glorificado, onde Cristo deve ser
exaltado, onde respeito deve ser mostrado para com as mulheres, onde a
inocência das crianças deve ser resguardada e onde as curiosidades
luxuriosas de pessoas solteiras não devem ser inflamadas
desnecessariamente.
Quando um orador deliberadamente desperta
desejos que não podem ser realizados com retidão em universitários
solteiros, ou quando suas ilustrações pessoais deixam de preservar a
privacidade e honra de sua própria esposa, isto já é algo bem pior do
que meramente inapropriado. Quando feito repetidamente e com o
comportamento de um bad boy imaturo, tal prática reflete um defeito de
caráter maior, que é a desqualificação espiritual. Qualquer homem que
faz tais coisas demonstra simplesmente que a marca registrada de seu
estilo não está realmente acima de qualquer reprovação.
Tão recentemente como há uma década, este ponto de vista não teria levantado um pio de controvérsia.
O
fato de que isto é tão controverso agora é simplesmente uma prova a
mais de que os evangélicos têm se tornado parecidos demais com o mundo, e
muito confortáveis com as características maléficas de nossa cultura.
Amanhã,
se o Senhor quiser, postarei o capítulo final desta série. Várias
perguntas têm chegado repetidamente de pessoas que têm comentado sobre
estes artigos, e no capítulo final de amanhã quero responder o maior
número delas possível.
Postado em 15/09/2011 |
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